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Mãe, mulher e um ser como todos os outros

Maria Solange Lucindo Magno

Dia 11 de maio de 2025, segundo domingo do mês, como acontece no Brasil, é dia de reverenciar todas as mães.

Li uma frase outro dia que me encantou e quero ilustrar o meu texto com ela: “Mãe é a teimosia do amor, que insiste em ocupar todos os espaços. É quem fica quando todos se vão”. Esta frase me fez lembrar que minha mãe foi a última a deixar nossa casa, de certa forma, zelando por tudo que ali foi construído.

Renata Vasconcellos, a jornalista, disse que mãe é uma eterna culpada, mas que não se incomoda muito porque ela fez o melhor para os seus filhos.

Muito se romantiza a figura materna, colocando sobre os seus ombros um peso grande em excesso. Mãe é mulher, esposa, profissional, filha. Tem desejos, frustrações e seus dias de fúria. Portanto, que não a coloquemos num pedestal, atribuindo-lhe um papel árduo que talvez lhe provoque muito desgaste e culpa.

Já tive oportunidade de falar sobre esse tema aqui, nesse espaço, e hoje gostaria de abordá-lo de maneira diferente. E foi por isso que me interessei pela leitura do livro “As Abandonadoras” da jornalista Begoña Gómez Urzais, que conta histórias sobre maternidade, criação e culpa. Ela faz relatos de mães da vida real, celebridades e mães retratadas em ficção, cujo tema é o abandono de seus filhos.  A jornalista enfatiza que para o homem, ir embora, abandonando os filhos, é quase desculpável, mas que, para uma mulher, é algo hediondo. A sociedade não lhe perdoa jamais.

Há muito tempo reflito sobre o fato de que o relacionamento entre mães e filhos nem sempre é um mar de rosas perfeito e de um amor incondicional como apregoado. Embora as mães jurem de pés juntos que amam todos os seus filhos da mesma maneira, sabemos que isso não é verdade. É certo que há mais afinidades com um ou outro filho (a), com aquele (aquela) que lhe demonstra maior carinho e cuidados. Isso faz parte da natureza humana. O fato de uma mulher gerar um filho não quer dizer que ela tem o dever de amá-lo. E isso por uma razão simples e natural: a mãe pode não se identificar com determinado filho (a) e o seu relacionamento com ele (ela) é como um outro qualquer, podendo ou não haver empatia. Mas não se fala sobre isso, pois é um tabu.

Certa vez, ao aguardar exaustivamente por uma consulta médica, folheei uma daquelas revistas existentes em consultórios e me deparei com uma reportagem que, para mim, foi muito esclarecedora. Eu li o depoimento de vários filhos relatando o quão difícil era o relacionamento deles com suas mães, o fato de não se darem bem com elas ou de não se sentirem amados. Caiu em minhas mãos providencialmente, pois me esclareceu sobre algo que sempre quis entender.

Fiquei um pouco chocada, mas ada a surpresa inicial e analisando de maneira racional, conclui que o relacionamento entre mães e filhos é como outro qualquer, com ou sem afinidades e até mesmo sem amor.

Na reportagem citada por mim, li o relato de filha dizendo que até no leito de morte sua mãe lhe disse que não havia conseguido sentir amor por ela; outra, disse a seu filho que não o amava porque ele lembrava o marido, que era uma pessoa que ela detestava. Outra ainda, disse que sua filha era fruto de violência sexual e que olhar para ela lembrava o tempo todo o terror que havia ado. Havia na reportagem vários relatos de filhos não amados e que sofreram por não entenderem a falta de afeto. É sabido da grande importância do amor, cuidado, atenção de pais na formação da personalidade de uma pessoa e da mãe, então, é crucial. Filhos não amados serão adultos eternamente carentes e vulneráveis.  

Esse tema sempre me chamou a atenção porque temos conhecimento de que existem mães que sentem um ciúme absurdo de suas filhas com o marido, pois pensam estarem sendo preteridas em favor delas, assim como há aquelas que competem com suas filhas seja na aparência ou na sua posição no mundo. Há aqueles filhos que, mesmo morando sob o mesmo teto, se sentem rejeitados, pois não recebem afeto e são tratados de forma diferente dos irmãos. Há os negligenciados por mães irresponsáveis. É o que se poderia chamar de “órfãos de mães vivas”.

É dramático, sim, caro leitor (leitora), mas acontece. No mundo real sabemos de mães que frequentemente abandonam seus filhos. E foi aí que cheguei ao livro “As Abandonadoras” para poder entender na visão da jornalista o que ela pôde apurar sobre mães que, a seu ver, “querem ter filhos sem se transformarem em mães” (o que convenhamos, é praticamente impossível) muitas vezes os abandonando sem pestanejar, se colocando em primeiro lugar. São de temas assim que as pessoas tentam se esquivar, mas que fazem parte de nossa realidade, sendo possível identificar e saber da destruição emocional causada.

No livro de Begoña é possível conhecer histórias de mulheres que renunciaram àquilo que se espera de uma mãe. O abandono se dava porque era feita uma escolha pela carreira, por um novo amor, por considerar a criança um estorvo, por não tolerar as obrigações da maternidade… Entre nós, temos um exemplo que teve muito destaque na época: a cantora Maysa por várias vezes deixou o seu filho por causa da carreira, sendo que o internou num colégio da Espanha por sete anos.  E foram muitas as aproximações e afastamentos. Seu filho, Jayme Monjardim, foi bastante afetado, embora mais tarde eles tenham se entendido e se perdoado. No livro em questão, algumas dessas mães pagaram um preço, outras, porém, assumiram sem remorso a sua escolha.

Felizmente, não é o que acontece com a maioria das mães, que são verdadeiras leoas, defendem suas crias e chegam a acobertar todas as suas falhas. As mães são normalmente protetoras, sejam elas fêmeas humanas ou do reino animal. A diferença é que entre os animais, quando a mãe percebe que o filhote está preparado para ganhar o mundo, ela o deixa ir e perde o vínculo, e entre os humanos, a mãe nunca rompe o vínculo. Pelo contrário, costuma sofrer bastante quando o ninho fica vazio, tendo dificuldade para dar um outro sentido para a sua vida.

O Papa Francisco ressaltou que “as mães não se limitam a dar a vida, mas também com grande cuidado ajudam seus filhos a crescerem, sendo exemplos de paciência, misericórdia e amor”.

Em meu texto, cujo título é “Não teremos mais bebês?”, cito o fato de muitas mulheres bem jovens estarem optando pela laqueadura das trompas para que não tenham filhos. À primeira vista pode parecer um ato egoísta, mas essas jovens estão fazendo uma opção por suas carreiras, por sua liberdade em vez de terem filhos que, certamente, ficariam abandonados e pouco cuidados ou ainda, terceirizados. Os jovens de hoje pensam diferente. A sua realização pessoal costuma vir em primeiro lugar.

Vimos casos agora recentes de mães que abandonaram seus filhos em lixões. Ou seja, levaram suas gravidezes até o fim, mas “jogaram fora” os seus bebês. Os que sobrevivem, costumam encontrar quem lhes queiram dar um lar, no entanto, nem todos têm a mesma sorte e acabam perdendo a vida. Se estabelecermos um paralelo, quais mulheres estariam agindo com mais coerência: as que optam por não terem filhos ou as que os têm, mas os abandonam em lixões ou outras situações equivalentes? Querendo itir ou não, a maternidade gera um ato de amor, de altruísmo e deveria ser consciente. Não temos o direito de julgar quem não quer filhos ou quem, num ato insano, desistem de seus bebês ou como fez uma mãe em Alagoas, matou a sua bebê. Eu prefiro acreditar que ela teve depressão pós-parto. Essas mães devem responder por seus atos, mas as consequências deles não cabe a nós julgarmos.

A atriz Klara Castanho, numa decisão digna de iração, levou até o fim uma gravidez fruto de um estupro e entregou o bebê para adoção. Amar um filho fruto de violência deve ser algo bem difícil.  Ela diz ser condenada até hoje por ter tomado essa decisão. Se não tivesse vazado a informação de dentro do hospital, talvez a moça tivesse mantido o caso em sigilo. Podemos julgá-la?

O fato é que a data do Dia das Mães costuma ter significados diferentes para as pessoas que perderam suas mães e vivem o luto; para os que estão distantes; para os que ficam indiferentes diante da ausência do amor materno; para os que a comemoram apenas por convenção. É muito bom ter um colo de mãe, ter o aconchego daquela pessoa que, teoricamente, é a que tem o maior amor por nós. Como foi dito por alguém: “As mães nunca morrem. Elas entardecem, tingem de nuvens os cabelos e viram pôr do sol”. 

Um feliz e abençoado Dia das Mães para todas as minhas queridas leitoras que são mamães.

Maria Solange Lucindo Magno, professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Atuou como Inspetora Escolar na rede estadual – SEE

Técnica em Educação da rede municipal de ensino de Barbacena – aposentada

Amante de livros, cinema, teatro e música, enveredou pelos caminhos da escrita

Lançou em 2020 o seu livro de caráter intimista “Escritos Com o Coração”

Autora do livro digital “Uma Visão Racional e Emocional do Mundo”, lançado em 3 de dezembro de 2024, pela Editora BOL, do Barbacena Online

Autora de diversas crônicas

Possui publicações na plataforma Scriv

Comentarista na página do Leitor – Revista Veja

Foi aprovada como colunista do site O Segredo

Aprovada em cinco Antologias

Atualmente é articulista do Complexo de mídia eletrônica Barbacena Online

Instagram: @mariasolluc

Facebook: Maria Solange Lucindo Magno

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