Com a sanção do presidente da República à lei 15.100/2025, que restringe o uso do celular dentro das escolas, os gestores, equipe pedagógica e professores podem se preparar para um turbilhão no início do ano letivo. Não será fácil enfrentar a fúria dos estudantes ao serem impedidos de usarem um artefato que já parece fazer parte deles.
A criação dessa lei pelos parlamentares brasileiros foi considerado um ato de coragem porque dessa vez pensou-se no bem daqueles que serão o futuro da nação. Vários países mundo afora já fizeram essa proibição, sendo amplamente divulgado. Acredito que essas iniciativas encorajaram o nosso congresso a criar a lei, que foi de imediato sancionada pelo presidente. E não poderia ter acontecido em melhor hora. Janeiro Branco é o mês de conscientização da saúde mental e emocional da população. O uso imoderado de aparelhos celulares ou quaisquer outros dispositivos eletrônicos por parte de pessoas em idade escolar tem causado transtornos emocionais, limitado a sua vida social, fornecendo a eles uma falsa visão de mundo.
Em primeiro lugar, é preciso que todos os envolvidos conheçam e estudem bem a legislação. Em seguida virá um decreto que a regulamentará e daí, sim, cada estabelecimento de ensino deverá fazer as suas adaptações e assegurar a sua aplicabilidade. Pelo menos, grande parte dos pais aprovam tal determinação. Penso que tanto as escolas como os pais sentem-se aliviados por terem o respaldo de uma lei para que seja restringido o uso de celular ou outros dispositivos móveis dentro da escola. Penso ainda que essa restrição deva se estender a todos os profissionais da instituição, a começar pelos professores, que têm que dar o exemplo. O uso de aparelhos eletrônicos a partir de agora só será permitido para uso estritamente pedagógico sob orientação dos profissionais da educação. Mas haverá exceção para que seu uso seja permitido para garantir a ibilidade; a inclusão; atender as condições de saúde do estudante e respeitar os direitos fundamentais.
Finalmente, pensou-se nos danos à saúde mental que esse meio de comunicação tem causado a tantas pessoas, especialmente às crianças e adolescentes, que estão vivendo um mundo paralelo, mergulhados em redes sociais e nos seus embates, criando falsas expectativas e seguindo falsos líderes. O uso exagerado de telas de modo geral é motivo de grande preocupação para especialistas em saúde mental, devido aos danos causados, em particular, aos seres em formação.
Não se pode negar a grande importância do celular e de seus aplicativos para fins de trabalho ou resolução de problemas do dia a dia e para nos conectar com o mundo. Eu mesma posso testemunhar o quanto ele já me foi útil, entrementes, pudemos observar que com o ar do tempo e com a aparição de mais e mais aplicativos atraentes, o celular ou a ser usados como meio de criar desafetos, grupos de conversas e desavenças, propagação de notícias falsas, e, sobretudo, nas redes sociais, um sem número de embates. Crianças e adolescentes aram a ter o a conteúdos impróprios e participarem de discussões inúteis e, atualmente, se privados desse contato sistemático, sofrem de nomofobia.
Infelizmente, comprovou-se que o celular na escola não é usado apenas para complementação e enriquecimento das aulas e, sim, é um meio de desviar a atenção dos estudantes com coisas fúteis e conversas intermináveis em grupos de WhatsApp, propagação de bullying, causando sofrimento a tantas crianças e jovens, levando alguns ao autoextermínio.
Como disse um especialista: “Quem sabe agora os estudantes voltem a fazer uso da caneta e não apenas digitem”. Realmente, talvez eles voltem a ouvir o que os professores têm a dizer e nos intervalos consigam conversar com os colegas, ouvindo e fazendo confidências ao vivo, presencialmente, e não num mundo falso e de fantasia. Seria a volta do observar a cor dos olhos do colega, a distinguir através de seu semblante se ele está bem, feliz ou com alguma aflição. Ninguém mais olha para ninguém. Todos am despercebidos, pois as telas roubaram a atenção. Por isso o mundo se transformou numa epidemia de solidão. Se nas escolas, com essa restrição, ficar comprovado que será um grande bem, já é uma esperança de que as coisas podem melhorar.
Fico aqui fantasiando que essa restrição deveria se estender a muita gente. Aos vários profissionais, trabalhadores, motoristas, pedestres, cidadãos em geral.
Já observaram como cada vez mais os motoristas estão falando ao celular? Eles o usam fazendo conversão, ziguezagueando pelas pistas, não observando quando o sinal abre. As pessoas nas ruas andam pelos eios olhando para o celular, lendo algo que para elas deve ser interessante, em tempo de cair num buraco, torcer o pé ou bater a cabeça num poste. Pedestres atravessam as ruas gravando mensagens e atendendo ligações e nem olham se vêm carros ou não. Fica a cargo do motorista ter cuidado para não atropelar o cidadão. Quantos patrões têm reclamado que seus empregados não largam o celular e muitos são dispensados por esse motivo. Parece que todos perderam o juízo! Quando havia apenas o telefone fixo, quando ele não saía do lugar, o mundo caminhava do mesmo jeito. Não havia essa urgência em falar com o outro e nem de saber as fofocas do mundo todo.
Tenho certeza de que num futuro próximo, todos os estudantes agradecerão por ter sido implantada essa lei. Os professores também terão um papel muito importante nesse mundo digital. Vai ser indispensável ter o domínio da IA se não quiserem ficar obsoletos. Eles têm a árdua tarefa de, com suas aulas, atrair a atenção de alunos tão sedentos de modernidade.
Doutora Ana Escobar, pediatra e autora do livro “Meu Filho Tá Online Demais”, está vibrando com essa determinação, pois ela é uma das defensoras ferrenhas de que as crianças e adolescentes precisam viver melhor, interagir, brincar mais e se afastarem de tanto uso das telas.
Enfim, uma medida que irá contrariar no início de sua implantação, mas que a longo prazo trará os seus frutos.
Maria Solange Lucindo Magno, professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental na rede estadual – aposentada
Atuou como Inspetora Escolar na rede estadual – SEE
Técnica em Educação da rede municipal de ensino de Barbacena – aposentada
Amante de livros, cinema, teatro e música, enveredou pelos caminhos da escrita
Lançou em 2020 o seu livro de caráter intimista “Escritos Com o Coração”
Autora do livro digital “Uma Visão Racional e Emocional do Mundo”, lançado em 3 de dezembro de 2024, pela Editora BOL, do Barbacena Online
Autora de diversas crônicas
Possui publicações na plataforma Scriv
Comentarista na página do Leitor – Revista Veja
Foi aprovada como colunista do site O Segredo
Aprovada em cinco Antologias
Atualmente é articulista do Complexo de mídia eletrônica Barbacena Online
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